- 20 de dezembro de 2021
- Postado por: Priscila Lopes
- Categoria: Blog, Jornalismo
Que as guerras deixam marcas na vida e na personalidade de quem delas participa, não é novidade. Porém, o doutor em comunicação e pesquisador sobre a Força Expedicionária Brasileira – FEB, Helton Costa e o psicólogo especialista em análise do comportamento humano, Derek Kupski Gomes, foram aprofundar-se sobre o tema em bibliografias e entrevistas com ex-combatentes, para relatar o preparo psicológico e as sensações dos pracinhas que lutaram contra o nazifascismo na Itália, entre 1944 e 1945. Helton é professor e coordenador do curso de Jornalismo da UniSecal.
Os dois reuniram histórias do antes, do durante e do pós-guerra, padronizando e hierarquizando as percepções dos brasileiros quando confrontados com as situações de estresse e os perigos das ações bélicas. O resultado foi o livro “Ao alcance da morte: ensaio sobre o estado psicológico dos soldados da FEB na Segunda Guerra Mundial” (Editora Matilda, 2021).
“O que nós fizemos foi vasculhar em centenas de livros e documentos da FEB, depoimentos que pudessem ser úteis quanto ao entendimento do estado psicológico daqueles homens. Também recorri a algumas entrevistas que fiz no Mato Grosso do Sul e no Paraná, além de vídeos e materiais de apoio. Tudo para podermos compor um quadro psicológico dos combatentes”, explica Helton.
Com esses dados, Derek fez uma análise do ponto de vista psicológico profissional e assim estabeleceu alguns indícios de como a tropa comportou-se nos meses de preparo, partida e participação no maior conflito do século XX. “Conseguimos organizar as percepções dos combatentes e ainda tivemos o trabalho de observar no pós-guerra, problemas que os afetaram fora dos campos de batalha, quando já eram civis. Encontramos centenas de casos, que eram retratados em jornais, como neuroses de guerra, mostrando que os efeitos do que haviam vivido e presenciado na Itália, continuaram a afetá-los, principalmente pela falta de um tratamento adequado”, observa Derek.
Um campo que se firmou posteriormente
Desde a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) vinham sendo feitos estudos em larga escala para tentar padronizar métodos de análise quanto aos quadros psicológicos no meio militar, e ainda que existissem estudos na década de 40 sobre o assunto, o maior impulso dentro da área, data do pós-Segunda Guerra, principalmente entre os norte-americanos, que dispensaram muitos recursos humanos, financeiros e materiais para a recuperação de seus ex-combatentes.
No Brasil, dentro da FEB, o médico Mirandolino Caldas, que comandou o posto de neuropsiquiatria em pleno front na Itália, foi um dos destaques que conduziram a estudos posteriores. No entanto, no país, ainda havia certa resistência a atribuir legitimidade ao campo da Psicologia, o que levou a uma regulamentação tardia da área, somente no ano de 1962.
Isso impactou diretamente na vida dos ex-pracinhas, pois, ficaram desassistidos por quase 20 anos. Não que faltassem tratamentos, mas, boa parte deles era experimental, sem os procedimentos padrões e científicos que hoje são amplamente utilizados dentro do campo da Psicologia, principalmente do ramo comportamental.
O que esperar do livro?
“O livro foi escrito com uma linguagem de fácil acesso para todos os públicos, pois, nossa intenção é fazer com que as pessoas tenham conhecimento do que acontecia e do que aconteceu no pós-guerra, para que assim possam refletir sobre a importância de políticas públicas eficientes no tratamento de grupos sociais expostos a situações de estresse prolongado, como os militares, por exemplo”, explica Derek.
Helton destaca também o valor histórico da obra. “É um campo aberto para estudos. O que nós fizemos foi organizar o que existia e trazer alguns elementos novos para discussão. Creio que ainda existem muitas áreas sobre a FEB a serem exploradas e o estado psicológico da tropa é apenas um deles, aliás, um dos mais importantes no meu ponto de vista”, comenta o pesquisador.
Como comprar o livro?
O livro está disponível no Clube de Autores e em lojas conveniadas com a editora. Para comprar, o link é o https://clubedeautores.com.br/livro/ao-alcance-da-morte, tanto na versão impressa quanto e-book.
Sobre os autores
Helton Costa é o autor dos livros “Confissões do front: soldados do Mato Grosso do Sul na Segunda Guerra Mundial” (2013/Arandu), “Crônicas de Sangue: jornalistas brasileiros na Segunda Guerra Mundial” (2019/Clube de Autores), “Dias de quartel e guerra: diário do pracinha Mário Novelli (2021/Matilda) e “Camarada Pracinha, amigo partigiani: anotações brasileiras sobre a Resistência Italiana na II Guerra Mundial” (Matilda, 2021). É doutor em Comunicação e Linguagens, especialista em Arqueologia e Patrimônio e fez estágio pós-doutoral em História. É natural de Dourados e criado em Ponta Porã, ambas cidades do MS. Atualmente reside em Ponta Grossa/PR.
Derek Kupski Gomes é graduado em Psicologia e especialista em “Análise do Comportamento”. Tem experiência na área de Psicologia Clínica e tem estudado Organizational Behavior Management (OBM) – Gestão do Comportamento em Organizações. É fundador do portal “Atualiza PSI – Psicologia Baseada em Evidências”, proprietário e responsável técnico da Empresa: InFluxo – Instituto de Psicologia & Tecnologia Comportamental, já tendo atuado também como professor universitário. Derek também reside em Ponta Grossa.
Legendas das fotos
Foto 1: Helton Costa e Derek Kupski Gomes, autores do livro
Foto 2: Equipe de médicos e enfermeiros que prestavam os primeiros atendimentos psiquiátricos/psicológicos aos soldados tirados de linha. Ao centro, o médico Mirandolino Caldas.
Foto3: Capa do livro, mostrando soldado sendo mandado para casa, por baixa psicológica no front da Itália. Rio de Janeiro, 1945.